Exercício Físico em tempo de Pandemia
Muitas das estratégias de contenção da disseminação da COVID-19 têm-nos obrigado a permanecer em casa e a desenvolver um estilo de vida mais sedentário que o desejável. As modalidades de teletrabalho e telescola, bem como os modelos profissionais de atendimento não presencial, têm imposto um padrão de inatividade aumentada, tornando difícil a manutenção de uma vida ativa e comprometendo o estado de saúde da população.
Sabemos hoje que uma das vertentes do estilo de vida que tem sofrido maior impacto com a Pandemia é a prática de exercício físico, sendo este: uma atividade física planeada, estruturada, repetitiva e intencional, exercida para a melhoria ou manutenção de um ou mais componentes da aptidão física ou saúde.
Dados do REACT-COVID – Inquérito Sobre a Alimentação e Atividade Física em Contexto de Contenção Social, em Portugal, indicam que no período de 9 de abril a 4 de maio do ano passado, 60,9% dos inquiridos reportaram baixos níveis de atividade física e que a prevalência de indivíduos considerados “muito ativos” ou “ativos” diminuiu, comparativamente a estudos anteriores para aferir o nível de atividade física da população portuguesa . Por outro lado, a quantidade de indivíduos considerados “pouco ativos” quase duplicou.
Se para alguns é difícil manter a prática de exercício físico a que estavam habituados, para aqueles que não costumam praticar, pode ser mais desafiante começar agora, mas é importante ter em conta que todo o exercício é válido e que se traduz, sempre, em vantagens para a sua saúde. Considerando os riscos que a inatividade implica para a sua saúde, encontrar a motivação para uma mudança positiva de comportamento, pode advir do conhecimento sobre os benefícios da prática regular de exercício físico
- Melhora a Saúde Mental: Favorece a sensação de bem-estar, contribui para a gestão do stresse, reduz os sintomas de ansiedade e depressão, melhora a qualidade do sono, as habilidades de pensamento, aprendizagem e julgamento e atrasa o início da demência.
• Favorece a Saúde Física: a capacidade aeróbia (aptidão para captar, fixar, transportar e utilizar oxigénio), ajuda a controlar o peso, a pressão arterial elevada e o risco de doenças cardíacas, diabetes mellitus tipo 2 e vários tipos de cancro, todas condições que podem aumentar a suscetibilidade à COVID-19.
• Potencia o Sistema Imunitário: Reforça o sistema de defesa do organismo (diminuindo a resistência à insulina e aumentando a capacidade anti-inflamatória), promove a imunidade antiviral, nomeadamente à COVID-19, prevenindo o desenvolvimento de uma forma grave desta doença.
• Melhora a força óssea e muscular: Aumenta o equilíbrio, a flexibilidade e a forma física, que é especialmente importante para a prevenção de quedas e lesões nos idosos.
• Promove o contacto com a família e amigos: Praticar exercício com pessoas que lhe sejam significativas (mesmo que por via on-line), favorece o contacto social e estimula a prática regular recíproca.
Para além do promover o exercício físico é importante, ainda, prevenir o sedentarismo e durante a sua rotina, sempre que possível, manter a atividade física: qualquer forma de movimento corporal realizado pelos músculos esqueléticos que resulte num aumento do gasto de energia. Esta deve incluir a interrupção de períodos de inatividade por mais de 30 minutos e pode ser feita em diferentes contextos de vida, incluindo no trabalho, na forma de transporte, no desempenho de tarefas domésticas ou nos momentos recreativos: fazendo limpezas, jardinagem, caminhando ou correndo.
Há que salientar que a prática de atividade física deve seguir as orientações recomendáveis em quantidade e intensidade, adequadas à idade e condição física de cada indivíduo. Assim sendo e de acordo com a Organização Mundial de Saúde, adultos saudáveis devem realizar, pelo menos, 150 a 300 minutos, por semana, de atividade física de intensidade moderada, de forma a promoverem a capacidade cardiovascular e o reforço muscular. Esta proposta poderá incluir a realização de exercícios com o peso do próprio corpo ou com pesos (como garrafas de água).
Em alternativa, podem ser realizados, pelo menos, 75 a 150 minutos, por semana, de atividade física de intensidade vigorosa ou uma combinação de ambas as intensidades, ao longo da semana. É importante que, a associar a estas práticas regulares, pelo menos 2 vezes por semana, sejam desenvolvidas atividades de fortalecimento muscular, de intensidade moderada ou superior, que envolvam os principais grupos musculares.
Em momentos de maior restrição (confinamento), considere a utilização da tecnologia como uma proposta para potenciar a sua saúde. Tire partido de aplicações promotoras da prática de exercício no seu smartphone ou smartwatch, se os tiver, acompanhe vídeos de exercício físico online, ligue-se aos seus e partilhem a prática de exercício.
Se considerarmos que ainda não há terapêutica acessível considerada totalmente eficaz para o tratamento da COVID-19, que as medidas de vacinação ainda não atingiram os objetivos de cobertura nacional e que as principais medidas preventivas são, ainda, as associadas à prevenção de risco de contágio e as que promovem um estilo de vida saudável, mais do que nunca, e independentemente da sua idade, este é o tempo de promover a sua saúde. Não apenas para melhorar as suas defesas para combater esta pandemia, mas para ultrapassá-la com melhor saúde. Comece agora!
Saiba mais em:
https://covid19.min-saude.pt/wp-content/uploads/2020/04/Iniciativas.pdf
https://www.dgs.pt/pns-e-programas/programas-de-saude-prioritarios/atividade-fisica.aspx
https://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-promocao-da-atvidade-fisica/ficheiros-externos-pnpaf/rel_resultados-survey-covid-19-pdf.aspx
https://www.who.int/news-room/campaigns/connecting-the-world-to-combat-coronavirus/healthyathome/healthyathome—physical-activity
Artigo realizado por: Carolina Santos, Catarina Perry, Daniel Câmara, Inês Botelho, Inês Melo, Inês Subica, Joana Ferreira, João Teixeira, Maria Amaral, Maria Cabral, Mariana Curvelo e Marta Medeiros, alunos do 2º ano do curso de Licenciatura em Enfermagem, no âmbito da Experiência de Promoção da Literacia para a saúde com recurso a plataformas digitais integrada no Ensino Clínico em Cuidados de Saúde Primários/Hospitalares
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Autores:
Carolina Santos, Catarina Perry, Daniel Câmara, Inês Botelho, Inês Melo, Inês Subica, Joana Ferreira, João Teixeira, Maria Amaral, Maria Cabral, Mariana Curvelo e Marta Medeiros, alunos do 2º ano do curso de Licenciatura em Enfermagem, no âmbito da Experiência de Promoção da Literacia para a saúde com recurso a plataformas digitais integrada no Ensino Clínico em Cuidados de Saúde Primários/Hospitalares
Parceiros:
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