“O menino mija?”
Entre 24 de dezembro e 6 de janeiro decorre, nos Açores, a tradição do “Menino Mija”, símbolo do património etnográfico local que consiste na visita mútua de grupos de familiares e amigos às casas uns dos outros, onde são recebidos com licores caseiros, doces e outras iguarias típicas da época. Antes de entrar, é habitual a pergunta: “O Menino mija?”, que significa que os visitantes esperam provar os sabores natalícios e partilhar momentos de convívio. Para além da degustação de licores caseiros como os de café, tangerina, leite, maracujá, amora e anis, preparados especialmente para esta ocasião, dão se a provar, também, outras gulodices da época como torrão de amendoim, Desfeito (espécie de recheio salgado), Bolo de Natal, entre outras iguarias. Esta tradição expressa fraternidade e hospitalidade, reforçando o espírito de partilha que caracteriza o Natal açoriano.
Manter a tradição é importante, mas é essencial refletir sobre alguns aspetos relacionados com os consumos de substâncias tóxicas, especialmente se em excesso.
“O consumo de álcool é socialmente normalizado”
São muitos os contextos que normalizam o consumo de álcool como comportamento socialmente aceitável. “Na verdade, o álcool tem feito parte das tradições sociais, religiosas e culturais em todo o mundo há séculos. Como parte de jantares familiares e celebrações religiosas, o consumo de álcool é normalizado na maioria dos lugares do mundo.” ([1])
“A pressão para o consumo de álcool pode ser um fator stressante”
Quando uma pessoa decide não consumir álcool, pode sentir-se sob pressão social para justificar essa escolha. Essa pressão surge em contextos festivos ou profissionais, onde beber é visto como comportamento “normal” ou esperado. Ter de explicar repetidamente os motivos, seja por saúde, crença ou preferência pessoal, pode gerar desconforto, ansiedade e até stress, porque a pessoa sente que está a contrariar uma norma social e teme julgamentos ou exclusão. ([2])
“O consumo de álcool provoca danos em saúde”
O consumo de álcool, especialmente se regular e/ou excessivo, repercute-se em danos para a saúde, incluindo a probabilidade aumentada para manifestar Doenças crónicas: cirrose hepática, diabetes, hipertensão, risco aumentado de vários tipos de cancro; Problemas neurológicos e mentais: insónia, depressão, demência, dependência alcoólica. Impactos sociais e comportamentais: acidentes de trânsito, violência, exclusão social. Riscos específicos: síndrome alcoólica fetal (em caso de gravidez), disfunção sexual, enfraquecimento do sistema imunitário. O excesso de açúcar presente nos licores e doces pode também e ainda contribuir para o aparecimento de cáries dentárias, aumento de peso e outras complicações metabólicas (dislipidémias, esteatose hepática, desequilíbrios hormonais). (3)
Sugestões para um Natal Saudável e Consciente:
Para manter a tradição sem comprometer a saúde, seguem algumas estratégias práticas e recomendações: hidrate-se bem. Beba água regularmente para aumentar a saciedade e reduzir a ingestão de álcool. Adote hábitos saudáveis: mantenha uma alimentação equilibrada e pratique atividade física para reforçar a motivação para a moderação. Se você ou alguém próximo enfrenta dificuldades com o consumo de álcool, não hesite em procurar ajuda de um Profissional de Saúde. Valorize a cultura sem excessos: o verdadeiro espírito natalício está na união, não no consumo. Não se esqueça que a promoção de hábitos saudáveis é essencial para a sua saúde e para a saúde de todos, ao longo do ciclo de vida!
([1]) World Health Organization. (2024). Álcool [Folha informativa]. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/alcohol, acedido a 18/12/2025
([2]) Katainen, A., Härkönen, J., & Mäkelä, P. (2022). Non‑drinkers’ experiences of drinking occasions: a population-based study of social consequences of abstaining from alcohol. Substance Use & Misuse, 57(1), 57–66. https://doi.org/10.1080/10826084.2021.1990331. Disponível em https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/10826084.2021.1990331. Acedido a 18/12/2025.