O Verão é uma época convidativa ao contacto com a natureza, ao relaxamento e ao desfrutar de banhos e mar, mas se o ar livre e a exposição solar nos conferem vários benefícios, também se revestem de perigos aos quais devemos estar alerta e saber evitar.
A exposição ao sol é essencial para a produção de vitamina D3, pela pele. Esta vitamina, depois de absorvida, é implicada no metabolismo do cálcio, favorecendo a absorção deste mineral nos ossos. A sua carência pode favorecer estados deficitários da vitamina, como o raquitismo, situação clínica que pode facilitar o aparecimento de defeitos na massa óssea[1].
Embora a carência de exposição solar possa incorrer ao risco de uma hipovitaminose, a evidência científica decorrente de estudos epidemiológicos e de laboratório reconhece o excesso de exposição solar como um fator de risco preponderante sobre o desenvolvimento de cancro de pele.
Existem dois tipos de cancros de pele, os melanomas, que resultam de uma proliferação maligna de melanócitos (células responsáveis pela pigmentação cutânea) e os cancros de pele não-melanoma, como o carcinoma das células escamosas (espinocelular, pavimento-celular ou epidermoide) e o carcinoma de células basais (basocelular ou basilioma). Embora possam justificar ainda uma mortalidade na ordem dos 5 a 10 casos por ano, nos Açores, a sua deteção precoce é essencial para o prognóstico mais favorável, a sobrevivência e o sucesso do tratamento. Todos estes tipos de cancro têm a exposição solar, designadamente a exposição à radiação UV (Ultravioleta) como principal fator de risco.
A radiação solar é constituída por radiação de vários tipos, designadamente a UV, que comporta radiação UVA, UVB e UVC. A radiação UVB é a mais nociva, sendo responsável pelas queimaduras solares, lesões oculares, assim como pelo foto-envelhecimento e cancro de pele.
Dependendo da latitude e da altitude a que nos encontramos, bem como da hora do dia, da presença de nuvens, de água ou de neve, a radiação UVB apresenta oscilações de intensidade. Deste modo, quanto menor a latitude, maior a altitude, hora do dia mais próxima das 12h00, menor presença de nuvens e estadia em local com água e neve, maiores os riscos na exposição solar. Nos Açores, as profissões de maior risco são as associadas à agricultura e pesca, sendo a exposição nesta última, agravada pelo efeito refletor de radiação que a água comporta.
A tolerância à radiação UV, seja esta proveniente diretamente do sol ou de fontes artificiais como solários, depende do grau de pigmentação da pele, designado como fototipo. Assim, quanto mais escura for a pele, maior o grau de proteção natural à radiação UVB. A tabela abaixo permite a perceção do tempo de exposição solar segura, mediante o fototipo correspondente[2].
Conheça o seu tipo de pele (fototipo)
A prevenção do cancro é possível, desejável e altamente recomendável, essencialmente junto das populações mais jovens, uma vez que os danos a nível da pele ocorrem sobretudo nos primeiros 20 anos de vida. Para uma exposição solar segura, tenha atenção às seguintes informações:
- A exposição solar direta é prejudicial e desaconselhada antes dos 3 anos de idade!
- Evitar a exposição solar em horas consideradas de risco (entre as 11h e as 17h).
- Procurar uma sombra, sempre que possível, especialmente nos períodos do dia em que a nossa própria sombra é mais pequena do que nós.
- Usar chapéu, de preferência de abas largas para proteger as orelhas e parte do pescoço.
- Usar óculos escuros com proteção contra a radiação ultravioleta.
- Usar camisa de manga comprida, de tecido denso, não poroso, que proteja o decote e os braços, bem como calças (medida aplicável sobretudo aos trabalhadores da pesca, da agricultura e da lavoura).
- Aplicar o protetor solar, sempre com filtro de amplo espetro (anti UVA e UVB) e com fator de proteção solar (FPS) adequado ao fototipo (ver Tabela 2). A escolha do FPS deve variar na razão inversa ao fototipo, isto é, quanto mais baixo for o fototipo, mais alto deve ser o FPS.
- Beber água durante a exposição ao sol, para evitar desidratação[3].
[1] Ghissassi FE, Baan R, Straif K, et al. A review of human carcinogens – Part D: radiation. Lancet 2009; 40: 751-2.
[2] Centro de Oncologia dos Açores Prof. Doutor José Conde. O Sol está à porta. Junho 2016, disponível para consulta em https://www.azores.gov.pt/NR/rdonlyres/72435FAA-E411-48FA-9277-3658C10C1274/0/Comunicado_08_Ca_Pele_COA_Junho_2016.pdf
[3] https://www.dgs.pt/saude-ambiental-calor/verao-em-seguranca/proteja-se-do-sol.aspx