De 24 a 30 de Abril celebrou-se a Semana Europeia da Vacinação, efeméride que pretende aludir à importância da adoção de comportamentos de prevenção primária em matéria de saúde e, especificamente da vacinação como meio de evicção de várias doenças não preveníveis, sob nenhuma outra forma, de modo tão eficiente . Foi através da implementação da vacinação, em 1796, que se conseguiu erradicar a varíola em 1980 e se prevê extinguir a poliomielite já no ano 2018.
Na ordem do dia, e pelas questões que se têm discutido acerca do agravamento da situação do Sarampo em vários países da Europa, a temática da vacinação assume uma relevância particular.
Os dados oficiais são esclarecedores, a OMS (Organização Mundial da Saúde) refere que as vacinas impediram, entre 2010 e 2015, pelo menos 10 milhões de mortes no mundo, e protegeram muitos milhões de pessoas de doenças como o sarampo, a pneumonia ou a tosse convulsa. De facto, esta e outras organizações como o ECDC (European Centre for Disease Prevention and Control), o CDC (Centers fos Disease Control and Prevention) e outras sociedades científicas não-governamentais, promovem a vacinação como meio para a consecução de assinaláveis ganhos em saúde reconhecendo, nos programas de vacinação, a finalidade de promover a equidade e garantir a proteção da população de uma forma universal, independentemente do género, etnia, religião, estatuto social e rendimentos familiares ou ideologias.
Quem regulamenta e controla a vacinação em Portugal?
Em Portugal, o controlo da ação vacinal é assegurado pelo Programa Nacional de Vacinação desde que foi criado, há mais de 50 anos, que comporta, para além do programa nacional que lhe serve de base, vários programas de orientação vacinal específica para grupos de risco ou circunstâncias especiais, como viagens ou surtos, que se mantêm em constante atualização sendo, sempre que necessário, adaptadas ao contexto da Região Autónoma dos Açores pelos serviços competentes da Direção Regional da Saúde . Através da vacinação, a humanidade vê assegurada uma das mais baratas e essenciais medidas de prevenção de doenças infeciosas graves e de promoção de saúde, facto que representa uma das maiores conquistas em Saúde Pública, a par da garantia de água potável.
Como atuam as vacinas e como nos protegem de doenças?
As vacinas consistem na inoculação de microrganismos causadores da doença (ou partes destes), modificados de modo a perderem a agressividade, designada por virulência, mantendo, ainda assim, a capacidade de conferir proteção e induzir imunidade, com segurança, para o hospedeiro. Além da proteção individual, a maioria das vacinas tem ainda a capacidade de, a partir de determinadas taxas de cobertura vacinal, interromper a circulação dos microrganismos entre indivíduos, originando aquilo a que se denomina “imunidade de grupo”. Este benefício para a sociedade é claramente uma mais-valia da vacinação massificada.
A vacinação é um direito ou um dever do cidadão?
É importante contextualizar a componente cívica à qual a vacinação, inevitavelmente, está associada pois o efetivo controlo epidemiológico de uma doença infeciosa, como o Sarampo, só é adquirido quando se obtém o controlo da propagação da doença e, este controlo, só se atinge pela garantia de uma comunidade vacinada . A vacinação adquire, pois uma significação de direito-dever na medida em que foi um direito adquirido pelo Homem a custo de décadas de investigação e evolução técnico-científica, disponibilizada à população através de um grande investimento governamental. É direito de cada cidadão vacinar-se, como forma de promover a sua proteção individual para a situação de doença, assim como é seu dever vacinar-se para prevenir a infeção de terceiros e garantir, assim, o controlo da disseminação infeciosa.
As vacinas representam riscos para a saúde?
Após muitos anos de experiência e milhões de vacinas administradas em todo o mundo, pode afirmar-se que as vacinas têm um elevado grau de segurança, eficácia e qualidade. Como qualquer substância química externa ao organismo humano, as vacinas podem gerar efeitos secundários ao serem administradas mas, em geral, esses efeitos, como dor, vermelhidão no local da injecção, aumento ligeiro da temperatura ou dor de cabeça, são ligeiros e desaparecem sem ser necessário tratamento. Em raríssimos casos, podem verificar-se reações secundárias mais sérias, mas os serviços de vacinação estão treinados para as controlar. No entanto, a ponderação risco/benefício apontará sempre para um superior benefício pela proteção individual e coletiva conferida pela vacinação, comparativamente ao baixo risco de reacções secundárias decorrente da vacinação.
Qual a situação epidemiológica local do Sarampo?
A ocorrência de surtos de sarampo, em alguns países europeus, colocou Portugal em elevado risco, devido à existência de comunidades não vacinadas. Não havendo razões para temer uma epidemia de grande magnitude nacional ou nos Açores, uma vez que a larga maioria das pessoas está protegida porque foi vacinada ou teve anteriormente a doença. As taxas de vacinação ao nível da Região Autónoma dos Açores para a vacina do Sarampo, Papeira e Rubéola são superiores a 99% nas duas doses da vacina e não foram detetados, até à data do último Boletim Epidemiológico do Sarampo em Portugal, quaisquer casos confirmados de Sarampo nos Açores.
Porque é importante estar vacinado contra o sarampo?
O sarampo é uma doença grave, muito contagiosa, para a qual não existe tratamento específico. A doença é originada por um vírus que frequentemente provoca complicações como diarreia, desidratação, infeção nos ouvidos, pneumonia (a principal causa de morte nestes doentes) e encefalite, que pode provocar lesão permanente do cérebro ou até mesmo morte. Mesmo em pessoas vacinadas, a doença pode, eventualmente, surgir mas com um quadro clínico mais ligeiro e menos contagioso. Em condições de gravidez, o sarampo aumenta o risco de aborto ou parto prematuro.
A vacinação é a principal forma de prevenção da doença, recomendando-se a vacinação dos indivíduos com idade ≤18 anos, com duas doses da vacina (aos 12 meses e 5 anos de idade) e da população adulta, se não vacinada, com uma dose de vacina.
Onde pode a população vacinar-se?
Toda a população que necessite deverá recorrer, preferencialmente, à Unidade de Saúde da sua área de residência, para atualização vacinal. Recomenda-se, para o efeito, que seja portador do seu Boletim Individual de Saúde (livro de vacinas). A vacinação é gratuita e está disponível para todas as pessoas presentes em Portugal.
O que fazer em caso de dúvida de Sarampo?
As manifestações clínicas do Sarampo podem gerar sinais e sintomas como febre, prostração, tosse, sensação de nariz a pingar (rinorreia), conjuntivite e sensibilidade à luz (fotofobia), assim como aparecimento de manchas na face interna da bochecha (manchas de Koplik) seguidas, geralmente, de manchas e borbulhas em todo o corpo que começam a surgir na cabeça e se generalizam a todo o corpo . Para que haja confirmação de caso não é necessário que estejam presentes todos os sintomas descritos, mas a validação clínica pode passar pela comprovação por exames laboratoriais. Em caso de dúvida de caso de Sarampo, deverá prevenir o risco de contágio ligando, primeiramente, a Linha de Saúde Açores: 808 24 60 24.
Fontes:
- Serviço Nacional de Saúde (2017). Semana Europeia da Vacinação 2017. Disponível em https://www.sns.gov.pt/noticias/2017/04/24/semana-europeia-da-vacinacao-2017/
- Organização Mundial de Saúde (2014). Empenho na erradicação da poliomielite em África. Disponível em http://www.afro.who.int/pt/centro-media/communicados-de-imprensa/item/7375-empenho-na-erradica%C3%A7%C3%A3o-da-poliomielite-em-%C3%A1frica.html
- Direção Geral de Saúde (2015). Programa Nacional de Vacinação 2017. Lisboa. Disponível em https://www.dgs.pt/cidadao/vacinacao.aspx
- Secretaria Regional da Saúde (2017). Portaria n.º 5/2017 de 16 de Janeiro de 2017. Angra do Heroísmo
- Direção Geral de Saúde (2014). Perguntas Frequentes Sobre Vacinação. Disponível em http://media.noticiasaominuto.com/files/naom_58f606be69c9f.pdf
- Direção Geral de Saúde (2017). Boletim Epidemiológico Sarampo em Portugal. Disponível em https://www.dgs.pt/em-destaque/sarampo-atualizacao-em-26-de-abril-2017-pdf.aspx
- Direção Geral de Saúde (2013). Programa Nacional de Eliminação do Sarampo. Lisboa.
- Direção Geral de Saúde (2017). Orientação nº 007/2017: Sarampo. VASPR. Disponível em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/orientacoes-e-circulares-informativas/orientacao-n0072017-de-20042017-pdf.aspx.
- Direção Regional de Saúde (2017). Circular Normativa nº 10 de 20 de Abril de 2017. Angra do Heroísmo
- Direção Geral de Saúde (2013). Programa Nacional de Eliminação do Sarampo. Lisboa.