O aumento da temperatura atmosférica sentido durante o Verão, especialmente durante os períodos classificados pelos Avisos de Tempo Quente, pode fazer-se acompanhar de consequências nefastas à saúde, especialmente em grupos de risco, que incluem grávidas, crianças nos primeiros anos de vida, pessoas idosas, portadores de doenças crónicas, pessoas com mobilidade reduzida ou acamadas, pessoas com problemas de saúde mental, trabalhadores expostos diretamente ao sol e/ou ao calor e pessoas com condições de habitabilidade precárias, que podem sofrer, com maior impacto, os efeitos negativos do aumento da temperatura[1].
Os riscos associados ao calor extremo são essencialmente: agravamento de doenças crónicas, probabilidade de ocorrência de cãibras, desidratação grave, insolação, esgotamento por calor, golpes de calor e morte[2]. Seguidamente se elucidam as causas clínicas que estão na base de cada uma destas alterações provocadas pelo calor, sendo apresentadas medidas para sua prevenção e controlo.
Agravamento de doenças crónicas:
São múltiplas as situações de saúde que podem sofrer agudização secundária ao aumento de temperatura atmosférica. Basta relacionarmos os efeitos do calor com a homeostasia do corpo humano. No aparelho circulatório, por exemplo, há uma tendência ao relaxamento da estrutura das paredes dos vasos sanguíneos, o que pode dificultar a correta circulação sanguínea, aumentando o edema (inchaço) dos membros.
O sistema renal esforça-se para manter o equilíbrio de eletrólitos, essencial ao correto balanço químico do corpo; as trocas gasosas comprometem algum esforço respiratório, etc., etc.. Os mecanismos fisiológicos de regulação da temperatura corporal vão repercutir-se num impacto direto para todos os sistemas orgânicos, pelo que, prevenir a descompensação da doença crónica é fulcral durante os períodos de calor extremo para que não se agravem os quadros de saúde individual.
Como resultado ao calor extremo, pode aumentar a probabilidade de ocorrência de cãibras:
| Cãibras | |
| Motivo | Resultado da transpiração excessiva após realização de exercício físico intenso em exposição ao calor extremo com hidratação inadequada, sem substituição dos eletrólitos perdidos na transpiração. |
| População de risco | Pessoas com problemas cardíacos ou dietas hipossalinas (baixo teor em sal) |
| Sinais e sintomas | Espasmos musculares dolorosos do abdómen, pernas e braços |
| Medidas de prevenção e controlo | Parar o exercício ou reduzir a sua intensidade; Esticar músculos e massajar suavemente; Descansar num local fresco e calmo; Beber sumos de fruta natural, sem adição de açúcar; Ligar para a Linha de Saúde Açores 808 24 60 24 se cãibras persistirem. |
Quando o equilíbrio orgânico está comprometido, podem ocorrer situações de Desidratação grave: O corpo humano esforça-se por manter uma temperatura corporal interna constante de cerca de 37ºC, para o seu funcionamento ideal. Durante os períodos de calor intenso, o corpo produz suor, sendo esta a principal forma de arrefecimento corporal. Quando os níveis de humidade do ar aumentam, o suor não consegue evaporar tão depressa como seria aconselhável. A evaporação do suor, no entanto, fica comprometida quando a humidade relativa atinge os 90%. Nestas circunstâncias, a temperatura do corpo aumenta e o consequente aumento da produção do suor pode levar à desidratação excessiva, podendo provocar danos irreversíveis no cérebro ou em outros órgãos, podendo, inclusive, ser causa de morte.
Para além da desidratação grave, outra situação cuja manifestação pode ser crítica é o esgotamento por calor.
| Esgotamento por calor | |
| Motivo | Resulta da alteração do metabolismo que contribui para perda excessiva de água pela transpiração |
| População de risco | Pessoas idosas e/ou com hipertensão arterial. |
| Sinais e sintomas | Sede intensa, transpiração excessiva, palidez, cãibras musculares, cansaço e fraqueza, dor de cabeça, náuseas e vómitos e desmaio. A temperatura do corpo pode estar normal, abaixo do normal ou ligeiramente acima do normal. O pulso pode apresentar-se fraco e rápido e a respiração rápida e superficial. |
| Medidas de prevenção e controlo | Ligar para a Linha de Saúde Açores 808 24 60 24, ou 112, em caso de alteração grave do estado de saúde, seguindo os seguintes procedimentos até à observação clínica direta:
Mover o indivíduo para um local fresco ou para uma sala com ar condicionado; Refrescar o indivíduo aplicando toalhas húmidas ou pulverizando com água fria o seu corpo; Deitar o indivíduo e levantar-lhe as pernas; Se a pessoa estiver consciente: dar a beber sumos de fruta natural sem açúcar e/ou bebidas contendo eletrólitos (bebidas para desportistas). |
Com uma manifestação mais súbita, o Golpe de calor deve ser, igualmente, uma situação a ser prevenida.
| Golpe de calor | |
| Motivo | Esta situação ocorre quando o sistema de controlo da temperatura do corpo do indivíduo deixa de trabalhar comprometendo a produção de suor para proporcionar o arrefecimento corporal. A temperatura corporal pode, em 10-15 minutos, atingir os 39ºC provocando deficiências cerebrais ou até mesmo a morte se o indivíduo não for socorrido de forma rápida. |
| Sinais e sintomas | Os sintomas incluem febre alta, pele vermelha, quente, seca e sem produção de suor, pulso rápido e forte, dor de cabeça, náuseas, tonturas, confusão e perda parcial ou total de consciência. |
| Medidas de prevenção e controlo | Chamar de imediato um médico ou ligar para o número de emergência 112, seguindo os seguintes procedimentos até à sua chegada.
Mover o indivíduo para um local fresco ou para uma sala com ar condicionado; Refrescar o indivíduo aplicando toalhas húmidas ou pulverizando com água fria o seu corpo; Arejar o indivíduo agitando o ar vigorosamente ou com um ventilador; Se não estiver consciente, não dar líquidos. O golpe de calor requer ajuda médica imediata uma vez que o tratamento demorado pode resultar em complicações a nível do cérebro, rins e coração. |
A Insolação decorre da exposição à radiação Ultra-violeta (UVA e UVB) que não consegue ser filtrada pelos gases atmosféricos. A exposição direta a este tipo de radiação pode provocar queimaduras graves, desequilíbrio hidroelétrolitico, náuseas, vómitos, tonturas e a longo prazo, lesões como cataratas, cancro de pele e até alterações no sistema imunitário[3]. Previna a possibilidade de insolação respeitando alguns princípios essências de exposição solar segura: Evite o horário de radiação mais nociva: entre as 11h e as 17h00. Proteja a sua pele e olhos com protetor solar com fator de proteção elevado (entre 30 a 50) reaplicando-o regularmente a cada 2 horas ou sempre que o corpo estiver molhado/transpirado. Use roupa leve e fresca, chapéu, e óculos de sol. Habitue, gradualmente a pele ao sol expondo-se em períodos progressivos. Caso a pele apresente bolhas e dor durante mais de 2 dias, a queimadura é considerada grave e deve ser alvo de avaliação por um profissional de saúde[4].
Para além das medidas de prevenção já mencionadas, para a prevenção dos efeitos do calor intenso recomendam-se, de uma forma geral, as seguintes medidas:
- Permaneça em ambientes frescos procurando locais à sombra e/ou climatizados. Evite a permanência (especialmente de crianças e idosos) em viaturas expostas ao sol, especialmente em períodos de maior calor. Favoreça o arrefecimento da habitação fechando persianas ou portadas e mantendo o ar circulante dentro de casa. Abra as janelas durante a noite. Use menos roupa na cama (sobretudo bebés e doentes acamados). Evite, mudanças bruscas de temperatura (um duche gelado, imediatamente depois de se ter apanhado muito calor, pode causar hipotermia)
- Beba água, ou sumo de fruta natural, mesmo que não sinta sede e evite o consumo de bebidas alcoólicas;
- Faça refeições leves e Evite refeições pesadas e muito condimentadas;
- Evite realizar atividade física nas horas de maior calor.
Se faz parte de um dos grupos de risco mencionados, tenha em atenção que a manifestação dos efeitos do calor extremo pode acontecer por: modificação do comportamento habitual, fadiga, dificuldade na mobilização, tonturas, vertigens, perturbações da consciência, náuseas, vómitos, diarreia, temperatura corporal elevada, sede, dores de cabeça. Medidas mais específicas ao seu estado clínico poderão ser necessárias para prevenir complicações. Esteja atento e procure ajuda, se necessário. Ligue LSA: 808 24 60 24, para aconselhamento eficaz.
[1] Direção-Geral da Saúde. Temperaturas elevadas nos próximos dias. https://www.dgs.pt/em-destaque/temperaturas-elevadas-nos-proximos-dias.aspx. Acedido a 13/08/2024
[2] Direção-Geral da Saúde. Ondas de Calor: Recomendações para a população. https://www.dgs.pt/saude-ambiental-calor/recomendacoes.aspx. Acedido a 13/08/2024.
[3] Direção-Geral da Saúde. Radiação Ultravioleta. https://www.dgs.pt/saude-ambiental-calor/radiacao-ultravioleta.aspx. Acedido a 13/08/2024
[4] Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venerologia. Como Prevenir o Cancro de Pele. https://www.dgs.pt/ficheiros-de-upload-3/sol-triptico-doc-pdf.aspx. Acedido a 13/08/2024.